quinta-feira, 29 de abril de 2010

Habitar a forma

Por Ricardo Torelly

Depois de alguns anos na tentativa de fazer isso que acreditamos ser teatro, hoje consigo observar com um pouco mais de sensibilidade, um pouco menos de pretensão. Terminei de ler sobre a Leveza, uma das seis propostas que Ítalo Calvino deixou para este milênio. O que consiste ser leve? Quais as junções de letras, palavras, frases, coesões e coerências, que conseguem ser leves? Onde se encontra o significado da leveza? Como extrair o peso de uma forma a ponto de se reconhecer a leveza na sua linha mais simples?
A forma que se desenvolve pode ser a mais complexa e de incompreensível execução num primeiro momento, ou a mais singela e de fácil assimilação. Visto que a forma cria-se num campo simples, experimentam-se alguns exercícios, vivenciam-se alguns movimentos, cria-se uma consciência da sua estrutura óssea e muscular, entendimento de uma imagem corpórea. Uma seqüência de movimentos e pensamentos concretiza-se uma forma. Cria-se então o como habitar essa forma.
Prematuramente munido sobre as concepções do que Calvino nos deixou a cerca do que é leveza, a cerca do que é fantástico e como esse fantástico é concebido na sua obra, das discussões do grupo o porquê escolhemos Calvino para desenvolvermos nossas aspirações artísticas e como tomar para a nossa contemporaneidade esse universo, das reflexões paralelas voltando para casa.
Vejo então que habitar essa forma seja simplesmente alterar minhas percepções diante da minha cidade interior e exportar outra visão de tudo isso que damos o nome de modernidade, avanço tecnológico e perda da sensibilidade humana. Afastar meu corpo ainda pesado, distanciar minha visão, compreensão do fantástico diante de tudo aquilo que vejo, ouço, experimento e pratico.
Divagações de um ser humano que busca não alcançar a insustentável existência. As formas podem ser tangíveis, poéticas, sensitivas, alteradas, reorganizadas,... . Habitá-las seja simplesmente alterar todo o processo cognitivo que vem sendo imposto há milênios. Fantástico é poder saber que posso ser uma ovelha negra.

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