quarta-feira, 23 de junho de 2010



Habitar a Forma II


“Não me prenderei a nomenclaturas, a designações a cerca de tudo aquilo que pretensiosamente acredito conhecer. Farei aqui uma busca de aprofundamento no que realmente desvendei. As descobertas são preciosas e reveladoras, mas o destrinchar essas descobertas é o que nos guarda de melhor a vida.”

Observamos as formas que estão diante dos nossos olhos, nossa primeira análise de contemplação se restringe as suas questões estéticas, suas questões de enquadramento, simetria, ritmo, sua combinação de tempo, espaço e peso. Somos tomados por uma avalanche de sensações e prazer diante da combinação perfeita dos elementos que constrói uma forma. E o que habita essa forma?

Depois do gozo a respiração busca controlar todos os impulsos involuntários do corpo, ficamos dispostos a qualquer arrebatamento, tomamos de volta a organização dos pensamentos, daí concluímos se tudo o que vivemos foi bom ou se fizemos algo que possamos nos arrepender. E é nesse momento que nossas formas buscam o que as habitam. Toda a efervescência vivida diante do prazer sexual e artístico é posta a prova quando o habitante dessa forma exige sua presença diante das contemplações formais. O habitante exige então um aprofundamento sobre ele mesmo, uma pausa nesse quadro de informações, modelos, reproduções, deve-se investigar o que habita tudo isso e qual é sua profundidade.

Outro relato que uso de exemplo existe formas muito claras diante das inquietações humanas, formas de como percebemos o meio em que estamos inseridos e nossas ações individuas e coletivas e como elas podem reverberar nas diversas camadas. Notamos que conseguimos verbalizar todo um quadro de miséria e conseguimos até mesmo achar algumas saídas, criticamos todos os teóricos que enchem as prateleiras das livrarias com suas análises sobre o ser humano e suas relações, sobre isso... e sobre aquilo... e como poderia ser feito. Mas o que habita tudo isso? Porque nos destinamos as nos reservar em analisar o homem, a sociedade, as relações humanas e outras tantas coisas? O que habita dentro em mim que me move? O que habita dentro dessas formas tão estranhas?

O descobrimento de uma fraude

Ao chegarmos ao ponto que separa a forma e conteúdo (o que habita) nos deparamos com uma série de interrogações, com questionamentos sobre o que consiste o conteúdo de nossas formas. Buscamos a subjetividade e a poesia para justificar todo o conceito agurmentado a respeito do que habita nossas formas. Existe uma música que diz: “Filosofia é poesia o que dizia a minha avó/ Antes mal acompanhada do que só” (Erasmo Carlos e Roberto Carlos). Releio então a frase e observo que deixemos de lado toda a poesia de Carlos D. de Andrade, Manoel de Barros, as filosofias de Sartre e Nietzsche e tantos outros que habitaram suas formas. E disparo contra a mim mesmo as perguntas e um aprofundamento nas descobertas.

O descobrimento de uma fraude em si mesmo é torturante, não que você tenha sido todos esses anos uma mentira, algo enganoso para os outros, o ponto se encontra na revelação e aprofundamento. Como aprofundar uma fraude? A palavra fraude pode nesse momento da escrita parecer pesada e talvez nem mesmo a mais apropriada para dar forma ao que habita dentro de mim.

Fato é que a descoberta de entender que todos esses anos todas as inquietações enquanto homem não tenha passado do inconsciente coletivo, apropriação de uma idéia de inquietações que não são realmente minhas, que não são suas. O que me perturba enquanto homem é saber que não tenho uma perturbação própria. Mas existe essa perturbação? Existe um homem que não se deixo levar pelo inconsciente coletivo?

Senhores tenho uma revelação, ainda mesmo com toda essa escrita, essa verborragia, essa busca de tentar achar um aprofundamento no que habita as minhas formas eu não sei como seguir. Como seguir? Para onde ir? Meu texto ainda não está claro, minhas idéias ainda não estão organizadas... hoje paro por aqui esse texto. Vou ler Calvino, Manoel de Barros, ouvir Elis Regina...

Um comentário:

O Profeta disse...

E parto no embalo do fim do dia
Não levo bagagem para o viver dos sonhos
Levo apenas esta força imensa
Que ofusca até os seres bisonhos

São tantos os caminhos que percorro
Neste infinito mágico há algo que senti
O deslumbramento preso a um sorriso
Gerado no...Feitiço que há em Ti...


Doce beijo

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