sábado, 17 de julho de 2010

UM ENSAIO HONESTO


“Eu queria ser lido pelas pedras” (Manoel de Barros)

A qualidade de ser pedra sempre me deixou instigado, inquieto e curioso em descobrir o que abriga uma pedra. Esquecemos suas composições de minério, o que me interessa é sua poética. A poética existente em uma pedra ultrapassa a própria poesia incrustada na sua superfície, e digo isso devido a sua simplicidade, a forma em se apresentar diante dos nossos olhos.

Buscando um dialogo na qualidade de ser pedra e munido da minha descoberta de ser uma fraude fui ao encontro de um ensaio honesto. O mais engraçado é que levamos nas nossas cabeças uma pronta formalização de como podemos desenvolver o ensaio e de como seremos honesto com esse ensaio. A capacidade de mentirmos para nos mesmos.

Fato é que existe na cidade todo um sistema de comportamento que se basta por si, que se entende nos seus furtos e assim todos vivem sem nenhum incomodo. Até o surgimento de um homem honesto, isso é o suficiente para desestruturação de todo um sistema de comportamento dessa cidade. Pronto temos ai um resumo do espetáculo, partiremos agora para a poética da pedra e do homem honesto.

Assim como a pedra o homem honesto é firme no seu posicionamento em não deixar ser alterado pelo comportamento existente naquela cidade, e firme na sua decisão segue suas longas jornadas noite adentro fumando e vendo a água passar por debaixo da ponte. Só ai vejo os primeiros sinais de poesia, pois não ser alterado diante de tantos apelos exige firmeza de pedra, poesia de pedra. Homem honesto e pedra dispostos aos nossos olhos.

O que é se mostrar por inteiro? Revelar o que realmente se é diante dos olhos de toda uma cidade? Qual estado de inconsciência precisa se atingir para não burlar a si mesmo? Posto diante de uma sala fria e sem nenhuma vida me disparo ao encontro desse ensaio na busca de encontrar a melhor forma de me revelar. Ingênuo, antes mesmo de me atirar do precipício, já garanto a precisão da queda.

Quando depois de algumas tentativas de formalizar a apresentação do homem honesto, decido então não pensar mais em nada, tomo como regra apenas um roteiro do que tem que ser feito, aprofundo minha respiração, dilato ainda mais os espaços vazios da mente e do corpo, repito varias vezes o mesmo roteiro e cada vez mais desconecto qualquer formalização, no momento exato da apresentação, nem mesmo penso sobre formas e conceitos, apenas penso em não me auto programar para o próximo gesto, para o próximo pensamento. Finalmente repetindo mais e mais vezes, não consigo mais pensar sobre nada, nem mesmo sobre quando vai acabar. Quando desconecto totalmente de tudo consigo encontrar algumas formas, elaborar mais claro o conceito. Acaba, fim do ensaio. E lá estava a formalização de corpo honesto diante da cidade. Era mais simples que o sofrimento desperdiçado, tudo era uma questão de não racionalizar, bastávamos apenas verticalizar a minha descoberta em ser fraude e me mostrar sem medos o que realmente sou. Ai vem toda poética de ser pedra e não se deixar abalar por momentâneas rajadas de vento. Vem a poética existente em ser honesto.

Talvez seja isso que realmente nos faz falta, o não pensar sobre a forma durante a descoberta, o meu desespero em querer estar sempre pronto, em conseguir resolver uma cena em apenas um ensaio, fez com que eu me distancia-se do que era o mais simples: o não conceitualizar uma forma, antes mesmo de vivenciá-la.

O processo que está se desenvolvendo na Ovelha Negra segue da forma mais simples, conversas, risadas, olhares... Não se prendendo a grandes descobertas do teatro, nos prendemos as descobertas do humano, o ser humano com suas concepções, seus pensamentos, suas crises, suas virtudes e defeitos, como esses seres se portam diante da sua própria sociedade que por vezes é tão desconhecida por ela, mas que o influencia sem precedentes. Acredito ainda nos desenhos despretensiosos que o corpo propõem, do que num texto pré fabricado e cheio de verborragia inútil. Busco agora o desprendimento das palavra e encontras as linhas do meu corpo atuante contrário a essa sociedade tão acostumada com as automatizações.

Às vezes leio Manoel de Barros para atingir o esquecimento e quando me dou conta ilumina nas minhas veias poesia...

Ricardo Torelly

Julho/2010

Um comentário:

* Edméia * disse...

*Bom dia ORELHASSSSSSSSSS !!! *

*Vim aqui para AGRADECER-TE pela

visita ao meu amado *Caderninho e

para conhecer este blog !!!

*Eu gostaria de saber se este

blog possui UM dono ou MAIS !!!

(Como posso chamá-lo ou chamá-los

?! Orelhas mesmo ?! ).

*Bem ... já te sigo !!!

*Ótima quinta-feira !!!

*Fiques com Deus.

*Beijossssssssssss.

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