terça-feira, 13 de abril de 2010

Da leveza do processo

Por Marília Salles

“A leveza para mim está associada à precisão e à determinação, nunca ao que é vago ou aleatório. Paul Valéry foi quem disse: “Il faut être léger comme I’ oiseau, ET non comme La plume” [É preciso ser leve como o pássaro, e não como a pluma]." (Ítalo Calvino – Seis propostas para o novo milênio).

Simples e objetivo, são as palavras que neste momento definem o processo dos orelhas para mim. Depois de 6 anos na cia eu já sou outra, mas não é só isso que conta. Dessa vez era estar ou não estar.

Um aquecimento distanciado de si mesmo. Como se eu pudesse me desconectar de mim mesma e continuar em mim. Com o mesmo frescor da urgência e precisão da técnica mais perfeita e mais extravagante. É o vazio onde se pode estar em qualquer lugar e se fazer qualquer coisa. Ação é também não ação. E isso para mim foi sempre fácil de entender, mas difícil de viver. Porque eu sempre achei que por ter direito ao grito eu deveria gritar. Mas em tempo descobri que o grito pode ser mudo. E para começar dura apenas segundos... e como fazer durar minutos, horas, dias? Está aí o trabalho de esvaziar. Me lembro que em 2006 ou em um outro ano, não me lembro ao certo, fazíamos a leitura cênica das “três irmãs” do Tchecov e naquele momento devido as circunstâncias dadas pelo texto me surgiu uma pergunta que perdurou em meus escritos, em mim, nas minhas cenas... “quem somos nós?”. As perguntas ainda continuam sem respostas com um amontoado de significados. Mas hoje apenas “somos nós” e já consigo brincar com os significados. O peso da pergunta “quem somos nós?” ficou perdida em alguma cena... num tempo em que o peso foi necessário para conhecer a leveza.

Um comentário:

Anônimo disse...

saudades da menina marília...

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